Droga Joana!

Sentada na varanda do meu apartamento eu observo a movimentada avenida paulista. 

Fecho meus olhos apreciando o barulho constante dos carros e me encolho quando uma brisa gelada me atinge. Procuro em meus bolsos um cigarro.

Droga.

Entro no apartamento em busca do pacote de cigarros. O encontro ao lado do notebook e da minha câmera.
Um pensamento passa por minha cabeça e antes que eu perca a coragem, agarro os objetos e vou até a varanda me sentando na mesinha que havia ali.

Acendo um cigarro e pego o cartão de memória da câmera. O giro entre meus dedos enquanto meu coração bate desesperado. Respiro fundo e o coloco na entrada do notebook. Ligo o notebook e prendo a respiração.

Droga Joana, você consegue.

Abro a pasta e imediatamente surgem dezenas de fotos dele. Dele e dela.
Tão lindo com seu cabelo ruivo que parece queimar em cada uma das fotos.
Todas as fotos no mesmo cenário. Um belo jardim.
Um belo jardim cheio de orquídeas. Eu costumava amar orquídeas. 

Que diabos você foi fazer Joana?

Eu gostaria de saber o quanto você pode odiar a si mesmo, pois naquele momento eu queria socar minha própria cara. Como eu pude ser tão masoquista?
Como eu pude aceitar ser fotografa do casamento do meu ex-noivo?

Depois de 3 anos sem notícias, meu celular tocou a música que eu me recusava ouvir. 
A nossa música.

Meu coração deu um salto quando vi o nome dele na tela do meu celular. Imediatamente as memórias me acertaram com toda a força. O dia em que ele desistiu de tudo estava fresco na minha mente. 

No dia em que nós mudaríamos para São Paulo ele me confessou que estava apaixonado. Apaixonado pela minha irmã. 

Eu fui para São Paulo sozinha.

Isolei-me do mundo e me concentrei em meu sonho. Estudei fotografia e agora no final da faculdade já tinha um estagio em uma ótima empresa.

Eu estava bem. Quase que feliz.
Até aquela ligação. 

Ouvir a voz dele foi como respirar pela primeira vez. Eu mal entendia o que ele dizia. Só me lembro de diz sim a uma pergunta. 
Quando percebi tinha aceitado ser fotografa do casamento do amor da minha vida com a minha irmã.

Observo as fotos me lembrando de como me senti enquanto tirava cada uma delas. 
Seleciono uma foto aleatória. Ele olha para ela apaixonadamente. 
Meu coração doí ao me lembra que ele já havia me olhado daquele jeito. 

Ela estava linda no seu belo vestido branco. Os cabelos escuros soltos em cachos do jeito que ele gostava.
Passo a mão em meus cabelos loiros e acendo mais um cigarro. Normalmente só fumava um por dia, mas hoje não tinha jeito. 

Preparo todas as fotos e as mando para ele. Exceto por uma.
Uma foto que eu tirei escondia. Na foto ele está sozinho, passando a mão em seus belos cabelos ruivos. As bochechas deles estão ligeiramente vermelhas e os olhos verdes estão brilhando.

Apago as fotos e salvo aquela última lembrança em uma pasta escondida chamada passado.
Fecho o notebook e olho para o céu escuro. Acendo um último cigarro e ouço a nossa música pela última vez.


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